quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vitória em Cristo - Com uma leitura singular da Bíblia, o pastor Silas Malafaia ataca feministas, homossexuais e esquerdistas enquanto prega que é dando muito que se recebe ainda mais



De olhos fechados, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, deixava-se empoar pela maquiadora, que encobria as manchas e o brilho de seu rosto. Dali a pouco, ele gravaria seu programa semanal na televisão. Naquela manhã de agosto, Malafaia estava amuado. Na véspera, soubera que um pastor – de quem se considerava amigo – havia lhe tirado o horário da madrugada na TV Bandeirantes, uma negociação feita pelas suas costas. Também lhe pesava a má repercussão de seu último programa, no qual havia pedido doações de 911 reais e 10 011 reais a seus fiéis. Na internet, o mais polido dos sites que tratou do assunto o chamou de “estelionatário”.
A moça domava suas sobrancelhas com rímel transparente e, antes de lhe baforar laquê nos cabelos, ele falou sobre o caso. “A oferta é o que viabiliza minha missão, que é pregar o Evangelho e arrebanhar o maior número possível de fiéis”, explicou. “Eu gasto milhões, milhões e milhões por mês com horário na televisão, congressos, cruzadas evangelísticas, treinamento de pastores, abrindo novas igrejas. Como se paga isso? Não é um anjo do céu que desce com um cheque em branco para mim.”
Levantou-se da cadeira com os bicos do colarinho em riste, pegou uma gravata vermelho-sangue e, com o queixo colado ao peito, passou à confecção do nó. “Então, quer dizer que eu tomo dinheiro há vinte anos dos pobres coitados e nenhum deles reclama? O cara lá do raio que o parta me dá 10 mil contos porque ele é um burro e eu sou um fera, porque ele é ingênuo e eu fiz lavagem cerebral nele?”, protestou, enquanto conferia a gola no espelho. “Isso é preconceito da elite, que acha que todo evangélico é tapado, idiota, a ralé da classe social explorada por um malandro. O cara dá oferta porque ele sabe onde eu invisto a grana dele, porque ele confia no trabalho que fazemos aqui e não quer que ele acabe.”
Há 29 anos, o carioca de origem grega Silas Lima Malafaia está na televisão falando de Deus. Seu programa Vitória em Cristo é como um longo comercial da Polishop – ofertas e promoções de DCs, livros e DVDs de sua empresa, a Central Gospel –, intercalado de sermões bíblicos e mensagens na linha motivacional/autoajuda de matriz norte-americana. Dublado em inglês, é transmitido via satélite para 200 países pela Daystar e Inspiration Network, redes evangélicas dos Estados Unidos. No Brasil, Malafaia pode ser visto na Rede TV, Rede Bandeirantes e CNT, emissoras nas quais compra horário.
O seu discurso é socialmente conservador, e suas trovoadas retóricas recaem sobre grupos organizados que militam pela afirmação das minorias e pelos direitos individuais. Considera-os liberais, termo que nas suas pregações ganha conotação pejorativa, deslizando no mesmo campo semântico de libertinagem: umbandistas, a esquerda da Igreja Católica, pastores de outras denominações religiosas, feministas, defensores do aborto e da eutanásia. Nos últimos tempos, o seu alvo predileto tem sido os gays.

os 53 anos, Malafaia anda impecavelmente penteado e se veste com apuro, não obstante os ternos marrons e as gravatas em tons plausíveis apenas na paleta da Caran D’Ache. Há anos, compra roupas e acessórios na mesma loja de um shopping na Flórida. O bigodão preto que o acompanhou por décadas foi tirado há quatro anos para rejuvenescer sua imagem. Ele tem um forte sotaque carioca que transforma a letra “s” em “r” característico, como em “são duarr da tarde”.
No púlpito e na televisão, cultiva um estilo iracundo e indignado – o que lhe valeu o apodo de “Ratinho Evangélico”, em referência ao apresentador cascadura do sbt, de quem é amigo. Ao defender seus pontos de vista, fala de maneira virulenta, mas ao pedir dinheiro ou vender seus produtos é ameno e não adota a estratégia do pé na porta. “Eu sou o único pastor que realmente prega a palavra de Deus na televisão.” E explicou: enquanto o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, dedicaria muito tempo de seu programa ao exorcismo e ao pedido de ofertas; o apóstolo Valdemiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus), à cura; e o missionário R. R. Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus), a transmitir imagens de cultos de sua igreja, ele interpreta a Sagrada Escritura à luz da vida cotidiana – o que faz de sua exegese bíblica uma peça única.
Recentemente, quando pregava como a glória de Deus pode deixar a vida do crente, ele tratou assim da cobiça e do pecado: “Aí vem a irmã dentro da igreja com a roupa arroxada, os dois melões de fora e o cara do lado só olhando, só no somebody love. (...) Se você está indecorosa, você peca e faz o outro pecar! E se você deixa sua mulher sair assim, você é um mané, um otário! Bota o silicone que você quiser, minha irmã! Mas se você quiser ser o instrumento do pecado, a glória de Deus vai embora e você vai pagar a conta com Jeová!”
Entre o anúncio de um kit de Bíblias e a interpretação de um versículo, Malafaia também divulga campanhas para arrecadar doações, como a do Clube de 1 Milhão de Almas, na qual o fiel doa 1 mil reais em troca de uma graça igualmente generosa. O objetivo é levantar 1 bilhão de reais com 1 milhão de doações. No final de agosto, o contador eletrônico de seu site contabilizava quase 38 mil adesões. Malafaia também já pediu para os fiéis doarem parte do aluguel e 30% de seus rendimentos, em vez do dízimo literal de 10%. Em abril, quando tinha uma promissória de 1,5 milhão de reais a vencer, superou-se: pediu ofertas individuais de 100 mil reais. Levantou o dinheiro em menos de uma semana. “Ralé que doa 100 mil... As pessoas não têm ideia do que está acontecendo no meio evangélico”, disse-me no camarim do estúdio de televisão.

 sede da Associação Vitória em Cristo ocupa uma área de 40 mil metros quadrados no bairro de Jacarepaguá, Zona Norte do Rio. A construção moderna e envidraçada contrasta com os arredores de comércio pobre e terrenos baldios abandonados. A entidade cristã – considerada sem fins lucrativos, o que a exime do pagamento de impostos – financia as ações do ministério religioso de Malafaia. São projetos sociais em favelas, cruzadas evangelísticas – que reúnem mais de 100 mil pessoas em praças públicas pelo Brasil –, congressos pentecostais, encontros anuais para a formação de mais de 3 mil pastores, além de seu programa na tevê. Por ano, fatura 40 milhões de reais, captados nas ofertas e doações de fiéis e admiradores. Segundo Malafaia, 20% dos que lhe mandam dinheiro não são evangélicos.
No ano passado, a entidade adquiriu por 4 milhões de dólares, nos Estados Unidos, um jato Gulfstream III de segunda mão. É nele que Malafaia e sua família se locomovem pelo Brasil e no exterior. Fabricado em 1986, o avião tem doze lugares, sofá, cozinha, sistema individual de entretenimento e autonomia de oito horas de voo. Em sua fuselagem está escrito In favour of God.
Numa manhã de julho, em seu escritório decorado com sobriedade em tons de preto e carvalho, ele usava um cardigã de listas azuis e brancas da grife Tommy Hilfiger, calça social e sapatos de verniz pretos. Como muitos pastores, também é adepto do relógio dourado, do anel de brilhantes na mão direita e, eventualmente, do celular pendurado no cinto.
Desde 2006, quando o Projeto de Lei 122, que criminaliza a homofobia no país, entrou na pauta dos parlamentares, Malafaia se tornou uma das principais vozes contrárias à causa. Foi ele quem, em junho, conseguiu reunir 50 mil pessoas em frente ao Congresso Nacional para protestar contra a votação. Também pediu a seus 180 mil seguidores no Twitter para entupir a caixa postal e congestionar os telefones de parlamentares favoráveis à proposta – no que obteve sucesso. Dias depois, na Marcha para Jesus, em São Paulo, ganhou espaço em jornais e televisões ao dizer que o Supremo Tribunal Federal havia “rasgado a Constituição” no momento em que aprovou a união homossexual.
“Não tenho problema com gay, tenho problema com ativista gay, porque são um bando de intolerantes, intransigentes, antidemocráticos”, falou. Segundo ele, caso o projeto seja aprovado, um diretor de escola que reclame de dois meninos se beijando no recreio poderá parar na cadeia.“Todo mundo se acha no direito de chamar evangélico de ladrão e não acontece nada. Mas se alguém falar um ‘a’ dessa bicharada, é o fim do mundo”, disse. (Há controvérsias. “Dependendo de como odiretor abordasse o casal, caberia uma reprimenda, mas prisão nunca. De qualquer maneira, essa cena não aconteceria num colégio, onde nem héteros podem ficar se beijando”, explicou Denise Taynah, assessora da Superintendência de Direitos Individuais Coletivos e Difusos, do governo do Rio de Janeiro.)
Malafaia estava perplexo. Não conseguia compreender como o Supremo Tribunal Federal garante o direito à liberdade de expressão para a Marcha da Maconha enquanto uma lei federal cogitava punir quem não concordasse com a homossexualidade. “Também fico louco porque essas bichas ganham dinheiro para viver nessa palhaçada. Sabe quem patrocina a Parada Gay? Petrobras, Caixa Econômica. É com o nosso dinheiro”, protestou.
Ao argumento de que um evangélico não corre o risco de ser espancado na rua por preconceito – como havia ocorrido com o pai que andava abraçado a seu filho e ambos foram tomados por um casal gay –, ele respondeu que o episódio foi uma “idiotice altamente condenável”, porém se tratava de uma tragédia isolada. “Mas os gays vão lá e propagandeiam como se fosse regra. Para isso, que é verdadeiramente homofobia, tem que ter cadeia, mas o que eles querem é privilégio”, disse. Depois que avivou a polêmica com os homossexuais, Malafaia passou a ser acompanhado por dois seguranças à paisana. “Se eu chegar num aeroporto e tomar tapa de bicha, vai ficar mal, né?”
Segundo Malafaia, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais tentava, sob o argumento da homofobia, cassar pela terceira vez o seu registro de psicólogo junto ao Conselho Regional de Psicologia. Essa seria a origem de sua rusga com o movimento gay. “Se quisessem apenas defender os direitos deles, o.k., eu não ia me meter, tenho mais o que fazer. Mas quando vi que o que queriam era cercear o MEU direito, aí me chamaram para a briga”, falou. Sobre a possibilidade de perder a licença profissional, ele não se deixa abalar. “O que falo digo no púlpito, não em consultório, por isso o Conselho nada tem a ver com isso. Mas toda hora eles conseguem reviver essa história porque ali tem um bando de viado que foi fazer psicologia para se descobrir”, completou.
Sua secretária – elegante e de preto, como todas as funcionárias da empresa – serviu água em copos de cristal. Malafaia se lembrou de outro embate à época da discussão do aborto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. “Eu não debato tema polêmico usando religião. Eu uso a ciência, a biologia, a medicina, por isso não conseguem me contestar.” Afirmou ter emudecido os presentes ao desafiá-los a dizer se era a mãe ou o bebê quem controlava o líquido amniótico do útero ou decidia sobre a data de um parto normal – o que deixaria patente que o agente ativo da gravidez é o feto e, portanto, ele tem vida própria.
Para Malafaia, o mundo está em decadência e os valores da sociedade estão no fundo do poço. Sua missão, como pastor e profeta de Deus, é chamar a atenção das pessoas para o que prega o Evangelho. Como exemplo da debacle humana, citou o caso de um pedófilo, preso nos Estados Unidos, que obteve o direito, concedido pela Suprema Corte, de assistir na prisão a todos os vídeos pornográficos que gravou com crianças. “Aí, você vai quebrando, você vai afrouxando, vai banalizando ser pedófilo, daqui a pouco eles estão pedindo também para serem respeitados”, disse. Referia-se ao caso do piloto Weldon Marc Gilbert, preso em 2007, que, por ter assumido a própria defesa, teve acesso, durante o processo,às peças incriminatórias sem as quais não poderia se defender.
Se um homem deseja fazer sexo com outrohomem, o que teria ele a ver com isso? “Nada! Cada um faz sexo com quem quiser. O que tenho é o direito de falar que isso é pecado, que é condenado por Deus e que a Bíblia diz que é uma perversão. Agora, o que esse pessoal quer não é o direito a fazer sexo – porque isso já fazem e não vão parar de fazer. Eles querem é colocar uma mordaça na nossa boca para nos proibir de falar qualquer coisa sobre eles. Olha o absurdo que é isso!”, indignou-se.

alafaia nasceu na Tijuca, Zona Norte do Rio, filho de um militar da Aeronáutica – que, ao se aposentar, tornou-se pastor – e de uma diretora de escola, ambos ligados à Assembleia de Deus. Desde criança, participava de cultos domésticos e acompanhava os pais em eventos evangélicos. Aos 14 anos, conheceu Elizete, de 13, com quem viria a se casar e a ter três filhos. Um irmão dele também se casou com uma irmã dela.
Foi nessa época que ele diz ter recebido “o chamado”. Ouvia uma pregação, quando no meio da frase do pastor sentiu algo inexplicável. “É como um estalo. De repente, tudo passa a fazer sentido. Você consegue integrar o emocional, o intelectual, o psicológico, você entende por que você está aqui. É uma coisa muito forte e muito pessoal”, contou. A experiência foi marcante, mas ele tinha dúvidas, sobretudo quando notava as dificuldades financeiras enfrentadas pelos religiosos de seu círculo social. Aos 20 anos, andava pela rua pensando no assunto, quando foi abordado por um amigo que, do nada, lhe disse para não temer porque ele teria como sustentar sua família. “Era Deus falando através dele”, disse Malafaia. Foi a confirmação de sua vocação de evangelizador.
Ele, a mulher e amigos faziam parte de um grupo gospel chamado Coral e Orquestra Renascer, no qual era o baterista. Chegaram a gravar um LP, apresentavam-se em qualquer galpão e, nos fins de semana, Malafaia alugava uma Kombi para evangelizar mendigos e turistas na praia de Copacabana. A família vivia com os rendimentos da mulher, que trabalhava na Caderneta de Poupança Letra. Foi quando cursou a Faculdade de Teologia do Instituto Bíblico Pentecostal. Com diploma em mãos, tornou-se, aos 23 anos, pastor auxiliar na Assembleia de Deus da Penha, onde seu sogro era titular, ganhando cinco salários mínimos por mês.

os anos 80, quando algumas emissoras brasileiras passaram a retransmitir programas de televangelistas americanos – como Jimmy Swaggart e Rex Humbard –, Malafaia ficou fascinado com o poder de evangelização da tevê. Vendeu um carro, pediu dinheiro emprestado a um amigo bem posicionado na hierarquia da igreja e contou com a simpatia de um rico empresário evangélico, Sotero Cunha, que durante anos o ajudou financeiramente. Foi assim que comprou um horário na antiga TV Record (atual CNT).
Com duas câmeras paradas, sentado atrás de uma mesa, Malafaia chamava pastores para cantar e palpitava sobre qualquer assunto. Com muitas contas a pagar, completava o orçamento com palestras, conferências e sermões em igrejas de amigos. Em uma ocasião, chegou a pregar noventa vezes em setenta dias. Perdeu a voz. Em 1990, ele já era o campeão de audiência da emissora.
“A explosão dele se deu quando passou a aparecer em rede nacional descendo o pau em todo mundo e falando de temas atuais. Ele não poupava ninguém. Falava de pastor safado, de evangélico falso, de político corrupto. As pessoas sentiam que ele estava verbalizando publicamente o sentimento que cada um carregava dentro de si”, disse o pastor Silmar Coelho, um dos melhores amigos de Malafaia, durante uma viagem de avião.
Ia para as gravações de ônibus pela manhã e à noite cursava psicologia, na mesma sala da mulher, na Faculdade Gama Filho, no Rio. Nunca atendeu pacientes em consultório. Sua visibilidade e intrepidez no discurso atraíam ofertas, que ele sempre pediu. Com dinheiro em caixa, passou a organizar eventos de evangelização e, paralelamente, investia em oportunidades que nunca foram para frente: loja de decoração, fábrica de “guaraná gospel” e uma rádio.
Em seus negócios privados, sua grande alavancada, como ele diz, deu-se quando conseguiu vender Bíblias em parcelas a perder de vista na televisão. Até então, as editoras dividiam o valor em apenas três vezes. Graças à amizade com um evangélico da diretoria do Banco Cédula, no Rio, Malafaia conseguiu que lhe dessem crédito na emissão de boletos bancários e junto a operadoras de cartão de crédito. Em 2005, em três meses, vendeu 100 mil Bíblias de 120 reais divididos em dez vezes sem juros – um recorde ainda inédito no mercado.

ra hora do almoço e Malafaia se dirigiu a uma sala a poucos metros da sua, que faz as vezes de refeitório da diretoria. Réchauds prateados ocupavam uma mesa comprida, diante da qual o cunhado, a cunhada, uma filha e a nora faziam seus pratos. Quase toda a família trabalha na Associação Vitória em Cristo ou na Editora Central Gospel – que dividem o mesmo prédio –, onde exercem cargos administrativos. Além deles, Elizete é conferencista, autora e também apresenta um quadro no programa de tevê do marido, e o primogênito Silas Filho, formado em teologia nos Estados Unidos, é pastor e vice-presidente do conglomerado.
Enquanto comia, Malafaia contou ter aberto mão do salário de pastor da Assembleia de Deus da Penha e disse que não usava um centavo das verbas da associação para despesas pessoais. Segundo ele, sua única fonte de renda era o que retirava como empresário na Central Gospel, cujo catálogo chega a quase 600 títulos, entre livros, CDs e DVDs. Os autores são ele mesmo, seus familiares, amigos ou pastores best-sellers americanos.
De sua lavra, Malafaia lança a média de quatro livros por ano. São cerca de noventa publicados, todos entre 64 e 72 páginas (“Mais do que isso, o cara não lê, acha grosso demais”), cujo enfoque é quase sempre superar desafios e romper barreiras no contexto da palavra divina. Um ghost-writer reúne suas falas em palestras, cultos e congressos e as transforma em texto corrido. Os títulos incluem Lições de Vencedor, O Perigo da Inversão de Valores, Como Vencer as Estratégias de Satanás, O Cristão e a Sexualidade, entre outros.
A Central Gospel é a segunda editora que mais vende livros evangélicos no país, em torno de 1 milhão de exemplares por ano. Recentemente, a empresa de cosméticos Avon, que agora também distribui produtos populares, comprou um lote de 400 mil livros para comercializar de porta em porta. Segundo Malafaia, seu patrimônio se resume a uma casa, quatro apartamentos pequenos no Recreio dos Bandeirantes, um no Espírito Santo e um imóvel de dois quartos, financiado em trinta anos, em Boca Raton, na Flórida. Ao ouvir que, para um empresário de sucesso, o patrimônio parecia modesto, respondeu que ele não era ganancioso.
Desde 2007, Malafaia já foi investigado duas vezes pela Receita Federal e outras três pelo Ministério Público Federal por suspeita de desvio do dinheiro do dízimo e lesão à crendice popular. Em uma das vezes, disse que ficou provado o erro de um contador que, sem sua anuência, deixou de recolher um tributo. “Paguei tudo no outro dia sem contestar. Quem atira pedra como eu atiro não pode ter telhado de vidro. Eu sou besta?” Quando se servia de sobremesa, pediu para remarcarmos o próximo encontro, pois o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o chamara para uma conversa de última hora. “Já até sei o que ele quer”, disse rindo.

stima-se que 45 milhões de brasileiros sejam evangélicos, mais da metade deles ligados a denominações chamadas pentecostais. É o grupo que acredita em dons espirituais extraordinários, como a cura de enfermidades, o exorcismo, a liberação de profecias e o dom de falar em línguas estranhas (glossolalia), como ocorreu no Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo se manifestou aos apóstolos por meio de línguas de fogo e fez com que eles pudessem se comunicar em outros idiomas com a multidão.
Com forte estrutura midiática, as igrejas pentecostais deram origem às neopentecostais, que catapultaram às alturas a ideia da valorização do aqui e do agora, da atuação do diabo na vida cotidiana e da relação de troca monetária entre Deus e os homens.
Testemunhos de ventura e redenção, insistentemente repetidos nos programas, sites, jornais e revistas das igrejas neopentecostais, fazem com que a esperança do alcance da graça nunca esmoreça. A promessa da prosperidade terrena é sua marca mais evidente. “Antes era: céu, céu, lindo céu, quando eu morrer eu vou ter tudo, mas enquanto isso, aqui na Terra, eu serei um lascado, todo ferrado. Mas a Bíblia fala da vida abundante, de a pessoa conquistar e ser feliz aqui e agora”, explicou-me Malafaia, uma tarde em seu escritório. “Na Bíblia, o assunto finanças é como qualquer outro, as pessoas é que fazem alarde com isso”, disse. Uma das passagens mais evocadas pelos neopentecostais é a Segunda Carta de Paulo aos Coríntios: “Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará.”
Na Vitória em Cristo não se fala em dinheiro, mas em semente; tampouco em graça, diz-se colheita. Por isso, menções à parábola da semente, do Evangelho de Marcos, capítulo 4, versículos 26 a 29, são recorrentes. “O Reino de Deus é assim como se um homem lançasse uma semente à terra (...) porque a terra por si mesmo frutifica (...) e quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa.” É o que Malafaia chama de “princípio da agricultura” ou “lei da semeadura”: quem quer receber dinheiro deve doar dinheiro. “O semeador planta a semente do limão porque ele quer colher limão, não laranja ou mamão ou abacaxi”, costuma repetir em suas pregações.
Na porta de entrada de sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, há uma plaquinha em forma de borboleta onde se lê: “Aqui mora gente feliz.” O imóvel de dois pavimentos é grande, mas não suntuoso. É decorado com muitos objetos dispostos pelas estantes e em mesinhas. Os móveis, talhados em madeira, parecem saídosde um castelo: imensos, pesados, escuros. Há dezenas de porta-retratos mostrando a família em natais, passeios no Beto Carrero World ou em viagens ao exterior.

um fim de tarde, Elizete Malafaia, de 51 anos, uma mulher delicada e simpática, arrumava-se para o culto do marido, na igreja da Penha. Quando bati o joelho pela terceira vez na mesa de centro, ela se desculpou dizendo que o mobiliário – originário da casa da família nos Estados Unidos – era mesmo grande demais para aquele ambiente. Ao volante de seu utilitário preto, ela se dizia preocupada com as polêmicas levantadas pelo marido, sobretudo com os homossexuais.
Segundo ela, não há casos na família. “Se tivesse, iríamos ajudar a tratar, não tenho preconceito”, afirmou. Na igreja, disse, há vários que são facilmente identificáveis. Basta observar como se comportam nos shows de cantoras gospels. Como psicóloga, ela também atendeu inúmeros gays e sustentou que a maioria teria sido abusada na infância. “A homossexualidade é uma desorganização emocional e espiritual. Se a pessoa não perdoou o abuso, ela canaliza aquela raiva para a vingança e, inconscientemente, se torna um abusador também.”
Elizete queria saber se eu acreditava em Deus, se era cristã, se já havia lido a Bíblia, se já havia ido a algum culto evangélico, se havia sido batizada na Igreja Católica. Respondi não a todas as perguntas. Falou-se sobre Deus e o Diabo. Ela afirmou que as forças do mal se empenham a todo instante em impedir que o mundo e o ser humano se aperfeiçoem. “Eu não tenho problema com quem não é cristão, mas você pelo menos acredita no bem e no mal?” “Não no sentido metafísico”, respondi-lhe. Não houve mais perguntas.
Quando o carro passou em frente a um templo da Universal, ela estabeleceu a diferença de sua igreja com a de Edir Macedo. “A Universal é como um hospital onde as pessoas chegam muito doentes.” Ali, elas conseguiriam se recuperar de vícios, colocar a vida nos eixos e afastar do cotidiano a presença do mal. “Mas elas não encontram a palavra de Deus para continuar seguindo a vida cristã”, disse. “E é aí que entramos. Somos uma igreja da palavra, do Evangelho, do caminho.”
Até dezembro de 2009, Malafaia era somente um pastor auxiliar, apresentador de tevê, conferencista motivacional e dono da Editora Central Gospel. Com a morte de seu sogro, que foi por 43 anos titular da Assembleia de Deus da Penha, Malafaia assumiu um rebanho de 17 mil fiéis e 104 templos espalhados pelo estado do Rio. Sua primeira medida foi adicionar o nome Vitória em Cristo para caracterizar sua própria igreja. Para fazê-lo, pediu demissão do cargo de tesoureiro da Convenção Geral das Assembleias de Deus, que era contrária à criação da subdenominação. Deixou a função dizendo que as finanças da instituição eram “caso de polícia”.
A Vitória em Cristo tem 150 pastores contratados, cujos benefícios incluem casa mobiliada, escola para os filhos e plano de saúde. O salário de um pastor iniciante gira em torno dos 3 mil reais e pode chegar aos 20 mil por mês, com direito a carro do ano. “Mas não adianta o cara vir com chorumela: tem que saber ler a Bíblia, pregar, explicar”, disse. Em sua igreja, fiéis desempregados ou recém-demitidos têm direito a uma cesta básica (“E não é com arroz de quinta, não!”) até se restabelecerem. Desde que assumiu a igreja, ele já atraiu 7 mil novos crentes e abriu outros nove templos pelo Brasil, rompendo a redoma fluminense. Tem planos de inaugurar outras 250 igrejas nos próximos cinco anos.
Segundo ele, no Brasil, há um imenso campo para evangelizar pessoas. Elepretende ser a alternativa dos fiéis da Assembleia de Deus que deixaram de se sentir representados pelo que ele chama de “assembleiossauros”: “Aqueles que vão jogar futebol de calça comprida”, disse, fazendo graça com o tradicionalismo de seus pares. Até pouco tempo, os assembleianos eram proibidos de ver televisão, ir à praia ou jogar futebol. Ainda hoje, nas subdenominações mais conservadoras, as mulheres usam saias e cabelos compridos. “Eu quero ser essa opção. Tudo me favorece: tenho visibilidade, credibilidade por estar trinta anos na tevê, comungo dos princípios da Assembleia de Deus, mas não fiquei parado no tempo, sou contemporâneo.”

naugurada em maio, a Vitória em Cristo da cidade de Curitiba é o retrato do que Malafaia quer espalhar pelo Brasil. O prédio envidraçado de três andares tem um auditório com mais de 3 mil lugares, palco forrado com madeira na cor caramelo, telões e modernos equipamentos de luz e som. O sistema de ar-condicionado e de calefação “nem o aeroporto da cidade tem”, diz ele com orgulho. O espaço é amplo, todo branco, conferindo ao ambiente uma sensação de limpeza e modernidade.
Em noite recente, o pastor titular – um jovem carioca de óculos e roupas modernas – alternava-se entre anunciar a agenda dos eventos e ler sua Bíblia num iPad. Antes do sermão, um dos melhores amigos de Malafaia, o pastor Jabes Alencar, e o filho deste, igualmente pastor e cantor contratado pela Central Gospel, ensinavam à plateia os gestos que acompanhavam um louvor em ritmo de xote:
O inimigo pelejou
mas não conseguiu
Ele tentou me derrubar
Eu chamei por Jeová
mas foi ele quem caiu

Luzes coloridas e estroboscópicas iluminavam todo o palco e a banda aumentara o volume. Homens, mulheres e crianças dançavam como se estivessem numa discoteca. Antes de deixarmos o local, Malafaia fez questão de mostrar o 2º andar da igreja, onde havia berçários e salas de recreação infantil que não pareceriam deslocados na capa de uma revista de decoração. “Eu não faço porcaria, está vendo? Se eu gosto de coisa boa, imagina Deus”, disse.

ram sete e meia da noite quando Malafaia subiu no púlpito da igreja Vitória em Cristo, na Penha. Os 2 500 lugares estavam ocupados e ainda havia muita gente em pé. O público era, em sua maioria, de mulheres jovens, maquiadas e bem-vestidas, como se estivessem voltando do trabalho. Representavam a ascensão das classes populares brasileiras. Eram as novas secretárias, vendedoras, telefonistas, recepcionistas. Os homens presentes vestiam terno e gravata ou paletó com camiseta por baixo. “A paz do Senhor, irmãos”, disse Malafaia saudando a plateia de microfone em punho.
Durante os 25 minutos seguintes, Malafaia prestou contas e expôs seus planos aos fiéis. Disse que aquele espaço entraria em reforma para acomodar 20 mil pessoas sentadas, que a igreja em Curitiba havia custado 6 milhões de reais (“Feita com a obra e o dízimo de vocês, aleluia”), que a igreja de Nova Iguaçu vai custar 3 milhões de reais, que precisava ainda levantar 2 milhões para concluir o templo de Joinville e outro 1,5 milhão para o de São José dos Pinhais. Contou que, na véspera, havia batizado coletivamente 1 107 pessoas no Piscinão de Ramos, que na televisão “tudo é patrocinado” e que ele gastava “milhões de reais por mês” para se manter no ar. Reiterou a promessa de abrir uma igreja em todos os “cantos desse país” e disse que ali não era clube nem terapia coletiva, então era preciso compromisso por parte dos crentes.
“Como a gente faz tudo isso? Só com a liberalidade e a fidelidade dos irmãos. Vamos zerar essa conta. Se você quiser fazer uma oferta especial, peça um envelope para você”, disse a todos. “Vamos orar para Deus dar as verbas para vocês. Frutifica a semente que eu e meus irmãos plantamos!”, gritou. Ouviam-se brados de “Aleluia”, “Glória a Deus” e “Louvado”. Alertou: “Ninguém pode ser constrangido a dar oferta. Ninguém é obrigado a dar. Ninguém quer que você tire o pão da boca das crianças nem que se endivide.”
Uma banda começou a tocar uma música etérea, suave. Dos cantos do auditório, saíram rapazes e moças distribuindo pilhas de envelopes onde se lia a frase “Minha semente para uma colheita abençoada”, impressa sobre uma foto de ramos de trigo. Dezesseis deles também carregavam máquinas Cielo para o pagamento da doação em cartão de débito ou crédito. Na Vitória em Cristo, 30% das ofertas são acertadas no cartão. “Não se envergonhe, não se cale, você é um agente de Deus”, disse Malafaia. O barulho dos zíperes de bolsas e carteiras era ensurdecedor.
Do alto, ele mantinha uma postura de desbravador, espichando a vista em direção ao horizonte. Uma mulher com unhas de esmalte negro escreveu algumas palavras no envelope e doou 50 reais; a que estava a seu lado,20 reais. Malafaia tirou o paletó e anunciou uma agenda de compromissos e eventos. Os presentes conversavam entre si e alguns cantarolavam baixinho a música ambiente.
A seguir, indo de lá para cá no palco, Malafaia contou que, no dia anterior, havia recebido 800 mil reais de um empresário amigo, que queria ajudar seu ministério. “Mas eu disse a ele: ‘Você acha que isso está comprando sua salvação, irmãozinho? Nãããnaninanina! Eu aceito a oferta, mas você tem que mudar a sua vida, você tem que aceitar Jesus, ajoelha aí.’” Em 2009, em entrevista a um site evangélico, Malafaia havia relatado uma história parecida, mas o benfeitor era um atacadista e o valor era de 130 mil reais.
Malafaia perscrutava a plateia, como que preocupado com a possibilidade de uma ovelha se desgarrar. Quando percebeu que o movimento dos obreiros havia cessado, deu a ordem: “Levanta o seu envelope aí.” E, como uma onda feita por torcidas em estádios de futebol, os envelopes foram surgindo um a um e ficaram suspensos no ar. “Glória a Deus”, ele disse antes de iniciar uma oração. Dias depois, calculou ter arrecadado por volta de 10 mil reais naquela noite. “Era meio do mês, o pessoal já está com o dinheiro mais contado”, explicou. Só com dízimos e ofertas, a Vitória em Cristo tem uma receita de 20 milhões de reais por ano. Malafaia sustenta que, proporcionalmente ao número de fiéis, é a maior arrecadação das Assembleias de Deus no país.
O sermão da noite era “Vida de fé ou incredulidade. Qual é a sua?”. Na Vitória em Cristo, não há ênfase em cura ou exorcismo. Malafaia prega sem anotações, apenas consultando a Bíblia para ler as passagens que menciona. Sua performance é uma combinação de memória prodigiosa e desempenho cênico. Ele é onomatopeico, careteiro e versátil no uso da voz – com a qual percorre uma escala extensa, do falsete quando imita alguém que faz uma pergunta tola, ao grave profundo que enfatiza uma frase mais solene.
 “É você contra o departamento em que você trabalha, é você contra o seu chefe, contra sua família, mas você está com Deus. Para Ele, você é maioria sempre!”, disse o pastor falando sobre autoestima. Leu o versículo 31 do livro dos Números, no capítulo 13. “Porém os homens que com ele subiram disseram: ‘Não poderemos subir contra aquele povo porque é mais forte do que nós.’” Encarando a plateia com o dedo espetado no ar, gritou: “Sabe o que Deus está dizendo aqui? Que aqui tínhamos que viver como ferrados. Era assim.” Da plateia ouviam-se louvores.
“E olha aqui o complexo de inferioridade!”, exclamou diante do versículo 33: “Também vimos ali gigantes (...) éramos aos nossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos.” Com a voz ainda mais alta e trêmula, ele trovejou: “Você está se vendo errado, irmão! Você não é gafanhoto! Tem gente que acha que você é inteligente! O complexo de inferioridade é CON-TA-GI-AN-TE! Enterra essa ideia, irmão!” Uma mulher gritou: “Aleluia!” Na minha frente, uma grávida sentada num degrau do altar enxugava lágrimas. “Olha para o seu irmão e diz: ‘Deus tem um projeto para você!’” A meu lado, Elizete Malafaia me olhou nos olhos e falou: “Deus tem um projeto para você e para toda a sua geração!”
Ao final, Malafaia convidou aqueles que estavam se reconciliando com Deus a se aproximar do palco. Eram pessoas que haviam largado a igreja ou ainda andavam em pecado. Oito delas apareceram, foram abençoadas e abraçadas por obreiros, que as ampararam para deixar o local. Depois de duas horas, o culto foi encerrado. Havia uma sensação de redenção e bem-estar no ar. As pessoas pareciam satisfeitas, cheias de si, animadas e confiantes. Malafaia foi cercado pelos fiéis que queriam fotos e consultas individuais. Na saída da igreja, sentia-se um forte odor de fritura e lixo. Dezenas de carrinhos de churros, pipocas e mesas de camelôs dividiam a calçada com detritos de sacos de lixo que haviam sido violados – provavelmente por algum catador de latinhas à procura de alumínio.

alafaia sempre foi brizolista. Votou em Lula duas vezes e, nas últimas eleições, de última hora, declarou apoio ao tucano José Serra. No início da campanha, disse que votaria em Marina Silva, que também é da Assembleia de Deus, mas mudou de ideia depois de ouvir que ela proporia um plebiscito sobre o aborto. Na TV Record, o bispo Edir Macedo insinuou que Malafaia teria recebido dinheiro para mudar de lado. “Arrumei 200 mil votos para o Marcelo Crivella [senador eleito pelo PRB do Rio e sobrinho de Macedo] e o tio dele vem me fazer uma dessas. Ele ia perder pro Picciani, eu me desdobrei... Agora a gente vê quem é o venal”, disse.
O pastor acredita que o Brasil terá em breve um presidente da República evangélico, mas que não será alguém saído dos quadros da igreja. “É alguém que surgirá da política e que, contingencialmente, será evangélico”, especulou. Segundo diz, uma bancada representativa no Congresso pode cauterizar, ainda na origem, projetos como o da legalização do aborto e da descriminalização das drogas. Hoje são 73 parlamentares, mas acredita que o número pode dobrar. Na eleição passada, os três candidatos a deputado federal que apoiou somaram mais de 300 mil votos. Seu irmão, Samuel Malafaia, foi o terceiro deputado estadual mais votado do Rio.
Eduardo Paes o havia chamado para tirar a limpo o boato de que Malafaia pensava em concorrer à Prefeitura nas próximas eleições. “Respondi que nem pensar. Mas ele sabe que trago votos”, disse-me dias depois do encontro. Em 1995, quando o bispo Von Helder, da Universal, chutou uma imagem de Nossa Senhora na televisão, Malafaia foi um dos líderes evangélicos que saiu publicamente em sua defesa. Edir Macedo ficou bem impressionado e o convidou para se lançar candidato a deputado federal em 1998, com a perspectiva de construir o seu nome como alternativa da Igreja Universal à Presidência. “Mas não era minha praia. Não nasci para ser político, sou um pregador”, disse durante um almoço em um hotel de Brasília. A recusa lhe custou o programa que tinha na Record. Desde então, a relação com Macedo é turbulenta.
Em que Malafaia acha que se diferencia do líder da Igreja Universal? “Eles estão muito violentos nessa coisa de pedir dinheiro”, explicou. “E adotam um discurso perverso na relação com os fiéis. Dizem que, se você não tem uma coisa, é porque você não crê. Já eu afirmo que, se você não tem, é porque foi burro ou jogou a oportunidade fora”, prosseguiu. “O Macedo era um cara de ideais extraordinários, mas se perdeu por causadessa tentativa desenfreada de destruir a Globo. Hoje ele usa o dízimo e as oferendas para bancar o profano, aquele lixo moral, que apresenta na programação da emissora dele.”

m dos eventos mais importantes organizados pelo ministério de Malafaia é o Congresso Fogo para o Brasil. No final de julho, reuniu 3 600 pessoas no Centro de Convenções, em Brasília. O público era composto de pastores de outras denominações, protestantes de várias partes do Brasil, fiéis da Vitória em Cristo e curiosos que o seguem pela televisão.
Já na entrada, via-se um guichê da TAM, que vendera pacotes de até 2 700 reais por pessoa pelos quatro dias de palestras com preletores de várias igrejas, hotel, traslados e café da manhã. Os corredores estavam apinhados de prateleiras lotadas dedvds, CDs, livros e Bíblias em diversos estilos. Todos tinham a etiqueta da Central Gospel. Uma das Bíblias mais procuradas era a de capa de couro imitando estampa de onça, alcinha que a transformava em bolsa de mão e espelho interno para maquiagem. Custava 10 reais. Havia produtos para todo tipo de público e de interesse. Crianças tinham à disposição toda a coleção da Turma do Cristãozim, com o Evangelho ilustrado; adolescentes eram o foco da série de revistas A Galera de Cristo e mulheres podiam comprar até livros de receitas coroados com reflexões bíblicas.
Um banner na entrada dos 26 guichês de caixa avisava que as compras de mais de 29 reais poderiam ser divididas em duas vezes sem juros e as superiores a 150 em até dez vezes. Quem gastasse mais de 400 reais estaria concorrendo ao sorteio de oito iPads. Na fila ao lado do marido, a funcionária pública Bruna Cristina Moura, 25 anos, uma loira de olhos azuis, bem-vestida, que era da igreja Sara Nossa Terra, havia comprado 12 dvds de Malafaia. “Admiro o jeito dele. Ele me inspira confiança e credibilidade”, comentou. A programação incluía uma série de shows de bandas e cantores da gravadora Central Gospel – que, em comum, têm o hábito de afastar o microfone da boca e tombar a cabeça para trás na hora de um agudo.
No hall de entrada do evento, conheci a empresária Andreia Moraes, uma moça de cabelos loiros compridos, que comia uma coxinha, encostada no balcão. Ela havia viajado sozinha para Brasília, estava hospedada em um hotel confortável e esperava ansiosa a fala de Malafaia. Há dois anos vinha contribuindo para o Clube de 1 Milhão de Almas e afirmou que, desde então, sua vida havia se transformado.
Endividada e desempregada, tornou-se empresária, representante da Herbalife em Mato Grosso do Sul. “Eu o conheci pela tevê, me apaixonei pelas coisas que ele falava, faziam muito sentido para mim”, disse. À sua semente, Deus havia proporcionado uma colheita misericordiosa. “Deus me honrou com uma casa de meio milhão de reais. Eu hoje tenho muito para dar e emprestar, minha família toda se converteu.” Para ela, o que diferencia Malafaia dos demais pastores é sua coragem de “comprar brigas” pelos evangélicos e pelo Evangelho. “Eu tenho discernimento religioso, sei que ele é um homem de Deus. Deus fala através dele. Se ele diz que a semente será frutificada, ela será”, falou.
Em mais duas voltas pelo espaço do evento, cruzei com Murilo Otávio Benittes, um funcionário público que gostaria que os políticos brasileiros fossem “íntegros” como Malafaia; e com Liana Ribeiro, uma pastora baiana que usava gola de pele e disse ter no pastor “uma referência espiritual pelo tamanho de seu trabalho evangelístico”. E também Neide Batista, uma senhora baixa e atarracada, cujo filho havia largado as drogas e arrumado um bom emprego como gerente de uma lanchonete de fast-food. Em todos, predominava a sensação de redenção, agradecimento e consciência plena da razão de estarem ali. A conversão havia sido um ato consentido e rendera frutos.
Na sala VIP do evento, diante de uma mesa de salgadinhos, Malafaia esperava sua vez de entrar no palco. Ele contava ter recebido um e-mail de um diretor da Rede Globo dando-lhe explicações sobre a queixa que havia feito à cúpula da emissora por causa do beijo gay que seria exibido na novela Insensato Coração.
Silas Malafaia contou que, no final do ano passado, foi chamado para uma conversa pelo vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho. O dono da Globo lhe disse que a rede queria conhecer melhor o mundo dos evangélicos. E contou terem percebido, na emissora, que Edir Macedo “não era a voz” dos protestantes no Brasil. Desde então, eles mantêm um canal de comunicação. “Sabe quantas vezes apareci no Jornal Nacional só este ano?”, perguntou o pastor, dando a resposta com a mão bem aberta. “Cinco.”
Numa série de reportagens sobre o trabalho social de determinadas igrejas, o Jornal Nacional mostrou numa delas o que a de Malafaia fazia na Vila Cruzeiro, no Rio. Três meses depois da ocupação da favela por forças do Exército, o pastor levou até lá massagistas, médicos, terapeutas e até manicures para atender à população, gratuitamente. O nome da igreja foi citado e o pastor ocupou o vídeo, sozinho. Um dos sonhos de Malafaia é comprar um horário na Globo para fazer pregações. “Ainda vou conseguir”, disse. “Eles já estão abrindo. Olha o programa do Faustão: está cheio de cantor evangélico se apresentando lá.” A Globo não comercializa horários contínuos. “Só vendemos anúncios em intervalos comerciais”, disse João Roberto Marinho.

o estúdio de gravação do programa, Malafaia, já vestido com um blazer azul-celeste, continuava a murmurar. “Trairagem, safadeza!”, resmungou enquanto se olhava no espelho. Mais do que ter perdido o horário da madrugada na TV Bandeirantes, ele não se conformava com a ursada do apóstolo Valdemiro Santiago. “Um cara que eu ajudei, que botei em contato com a Globo quando ele precisou. Que botei minha cara para bater quando a Lei do Psiu de São Paulo ia fechar a igreja dele”, dizia. Soube-se que, numa negociação direta com a cúpula da Bandeirantes, Santiago ofereceu 150% a mais do que o pago por Malafaia pelo horário das 2 horas às 6h45, algo em torno de 10 milhões de reais por mês. Em geral, os canais vendem aos religiosos janelas reservadas a espaços publicitários. Assim, não se responsabilizam pelo conteúdo do que é exibido.
Com exceção da Globo e do SBT, as demais emissoras gostam e querem vender horários para pastores evangélicos. O pagamento é em dia porque têm dinheiro vivo na mão; o custo de produção dos programas é baixíssimo, o que reduz muito o risco de bancarrota e, consequentemente, de calote. E, como a concorrência entre eles é forte, acabam pagando muito mais por horários desprezados pela audiência, como é o caso das madrugadas. “O R. R. Soares está saindo da Band até agosto e estão me oferecendo para pegar o horário”, disse. “Mas estão querendo enfiar a faca, estou fora.”

 diretor do programa avisou que deveriam descer para o estúdio. “Se o Valdemiro está pensando que vai levantar grana na madrugada, está muito enganado. Ninguém vende nada nem recebe doação de madrugada. O efeito madrugada é falar com gente com problema. Gente insone, desesperada, que não tem a quem recorrer. É espetacular para a evangelização, mas zero para negócios”, comentou.
No estúdio, uma equipe de vinte pessoas estava à sua espera. O cenário é constituído por um painel pintado com arvoredos que supostamente remetem a um jardim em Jerusalém, além de uma fonte de verdade que jorra água. Como trabalha sem roteiro e improvisa tudo, decidiu usar todo o programa para rebater as ferozes críticas da internet que atacavam as suas reiteradas solicitações de dinheiro. No ar, comunicou que precisava levantar 8,5 milhões, e explicou, tostão por tostão, onde o dinheiro seria empregado. Um milhão de reais para uma cruzada evangélica para 100 mil pessoas em São Luís; outro milhão para cruzada idêntica em Fortaleza; quatro milhões para treinar 2 500 pastores e 500 jovens com vocação ministerial; e 2,5 milhões para a adequação do seu programa ao padrão de alta definição digital.
Quando as câmeras foram desligadas, ele me chamou num canto: “Vê se outro pastor faz isso que eu faço. Eu divulgo onde gasto cada centavo que recebo. Vai lá no R. R. Soares e manda ele dizer onde ele põe a grana, vai lá no Edir Macedo e vê se ele abre as finanças dele.” Terminou a conversa revelando o resultado dos pedidos de oferta. Em menos de dez dias, 145 pessoas haviam doado os 10 011 reais e outras 2 mil, os 911 reais. “Alguma compensação eles devem ter, não acha?”, perguntou.
  * por Daniela Pinheiro - Revista Piauí

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Pastor prega que a Terra é quadrada, que o sol gira em torno dela e tenta provar com a Bíblia. Assista

Pastor prega que a Terra é quadrada, que o sol gira em torno dela e tenta provar com a Bíblia. Assista
A Terra é quadrada e o sol gira em torno dela, diz pastor utilizando versículos bíblicos
 O pastor Carlos da cidade de Goianésia (GO) diz que a Bíblia afirma que a Terra é quadrada quando se refere aos quatro cantos da Terra.
“A palavra do Senhor diz que a Terra é quadrada, porque a palavra diz que enquanto o evangelho não for pregado nos quatro cantos da Terra não virá o fim”, diz ele.
Não há informações sobre qual a denominação que esse pastor representa, o vídeo foi postado no Youtube e gerou muita polêmica nos comentários.
Outra tese levantada pelo pastor Carlos é que a Terra não gira, e sim o Sol. “A Terra também não gira, quem gira é o Sol”, diz ele citando Eclesiastes 1:5 e também o capítulo Josué 10:12 que fala da oração que parou o Sol.
Os rapazes que filmaram o vídeo o questionam sobre a gravidade, querendo entender como estamos firmados na Terra se ela não gira e não é redonda, o pastor desconversa e tenta levantar outra polêmica: “O papagaio fala, mas o macaco não. Pela ciência diz que o homem veio do macaco, mas eu digo pra você e provo na Bíblia que Deus abre o bico do papagaio, mas não abre a boca do macaco”.

Com bebidas, gays e tatuados, igreja evangélica funciona dentro de boate na famosa rua Augusta em São Paulo. Assista

Com bebidas, gays e tatuados, igreja evangélica funciona dentro de boate na famosa rua Augusta em São Paulo. Assista
Rua Augusta, 486. Às 3h de um sábado, dezenas de pessoas se aglomeram em frente ao Clube Outs, uma das muitas casas noturnas da região.
Para entrar, é preciso enfrentar seguranças engravatados e desembolsar R$ 20. Lá dentro, flanelados, tatuados e emos dançam hits da música pop dos anos 1980 e 90.
No dia seguinte, por volta das 18h, a casa continua a mil. Mas as portas estão abertas a qualquer um. Sob a luz de holofotes, uma banda anima um público jovem. Num telão, letras de músicas sobre louvor e compaixão. No bar, as garrafas de Smirnoff e Heineken permanecem intocadas.
O show termina, e Junior Souza, 37, surge. Veste uma camiseta preta estampada com o símbolo matemático que representa o “diferente”, tem o antebraço tatuado e brinco na orelha.
Dá alguns avisos, indica o lugar onde fica a caixinha de contribuições e anuncia pelo microfone: “Agora a gente vai fazer um intervalo e já continua o culto, beleza?”.
A pausa serve para que os fiéis da Capital Augusta possam trocar ideias. A Capital, como os habitués a ela se referem, é uma igreja protestante, fundada em 2009 pelo pastor Junior. O grupo inicial era formado por músicos, designers e gente que “já vivia a vida da Augusta”, segundo o pastor, que é professor de inglês e dá aulas na Faculdade Teológica Metodista Livre.
Quando o intervalo termina, Junior, de frente para um laptop, começa a ler um versículo da Bíblia. Carismático, ele às vezes quebra a leitura e traduz um trecho sagrado para uma fala informal.
A maioria dos presentes ainda não chegou aos 30 anos. São jovens antenados, que compartilham sua fé no Facebook e no Twitter. No site da igreja, são disponibilizados podcasts religiosos.
Dono de um corpo tatuado, o skatista e publicitário Bidu Oliveira, 20, diz que sofreu preconceito em outras igrejas e ali encontrou uma comunidade. “O foco aqui é Jesus”, justifica.
A Capital permite a ingestão de bebidas alcoólicas, desde que com moderação. Sexo, melhor dentro do casamento. “O projeto ideal é a castidade, mas, se não é essa a sua realidade, vamos seguir o caminho da reparação”, aponta o pastor. Gays são bem-vindos. “Na Augusta, é natural que eles frequentem. Nosso slogan é: ‘Proibido Pessoas Perfeitas’.”
Além do culto no Outs, há reuniões semanais nas casas dos integrantes. “Ali dividimos as alegrias e frustrações da vida em SP”, diz Junior, um paranaense de Assis Chateaubriand.
Antes de chegar à capital, ele era ligado, no interior, a uma igreja Vineyard, associação criada na Califórnia dos anos 1970. Não gosta de ser chamado de evangélico. “Tenho vergonha do que esse termo se tornou no Brasil”, confessa.
O aluguel do imóvel na Augusta é bancado por 12 pessoas da liderança da Capital. O dinheiro das doações, segundo o pastor, vai para missões religiosas e outras instituições. Valentim Van der Meer, promoter da boate, diz que aceitou alugar o espaço por simpatizar com a igreja. “É o mesmo público que frequenta o Outs na balada.”
Por volta das 21h, o culto termina ao som de Metallica. Por uma coincidência irônica que só uma rua tão augusta pode permitir, a poucos metros dali, no número 501, fica o Inferno Club. “É legal ter uma igreja na porta do inferno, mas, infelizmente, ele não está acessível. Eles cobram o dobro do aluguel daqui”, diz o pastor, rindo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Você conhece ou já viu alguém se converter após o “apelo” do Pastor no culto? Conheça a história dessa prática

Você conhece ou já viu alguém se converter após o “apelo” do Pastor no culto? Conheça a história dessa prática
O pastor encerra seu sermão: “O Espírito Santo convida você a vir. A congregação orando, esperando ansiosa, convida você a vir. Na primeira nota da primeira estrofe, desça as escadas, desça por estes corredores. Que os anjos possam acompanhá-lo. Que o Espírito Santo de Deus o encoraje. Que a presença de Jesus caminhe ao seu lado enquanto você vem, enquanto nós permanecemos em pé e cantamos ao Senhor”. E as pessoas realmente vêm. Semana após semana, em igrejas por todo o mundo, cenas como essa acontecem ao fim de milhares de sermões. A congregação fica em pé e canta; os pecadores caminham pelos corredores e oram por salvação.
Este método evangelístico bem comum, conhecido como sistema de apelo, não foi sempre assim. Evangelistas bem-sucedidos como George Whitefield, Jonathan Edwards e John Wesley nunca fizeram um chamado ao altar. De fato, eles nem sequer sabiam o que era isso. Eles convidavam seus ouvintes apaixonadamente para vir a Cristo pela fé e aconselhavam regularmente os pecadores ansiosos depois dos cultos. Mas não lhes pediam para dar uma resposta pública ou física após os sermões evangelísticos. Então, de onde vem esta prática?
Inicialmente, o apelo era usado como um meio eficiente de reunir pessoas espiritualmente interessadas em se juntarem para aconselhamento após um sermão. Em vez de procurar os penitentes um a um, o pregador os chama à frente, ou a outra sala, para conversar e orar. Alguns pastores usaram este recurso no fim da primeira década do século 18, mas apenas durante os encontros campais do segundo grande despertamento da América foi que eles realmente ganharam espaço.
Os encontros campais eram comuns em Estados de fronteiras, como Kentucky e Tennessee, por volta do começo do século 19. Estas reuniões que duravam alguns dias eram um meio de os ministros (a maioria metodista, batista, presbiteriana e discípulos) introduzirem o evangelho aos colonos rurais. As primeiras reuniões campais foram feitas com pregações apaixonadas e respostas extremas. Centenas de ouvintes gritavam, gemiam, desmaiavam, contorciam-se e choravam desesperadamente. Os pregadores geralmente viam estas respostas como evidência da obra do Espírito Santo.
Por volta de 1805, estes movimentos corporais espontâneos eram menos comuns. Os ministros faziam um “apelo” como um meio visível de medir a resposta das pessoas às suas mensagens. Os “altares” eram áreas cercadas perto do lugar principal de pregação no campo onde os pregadores desafiavam os pecadores a buscar a salvação. O pregador metodista Peter Cartwright descreveu um encontro campal em 1806: “O altar estava cheio de gente transbordando em lamentos”. Outro pregador metodista contou detalhadamente o momento em que “o cercado estava tão cheio de gente que as pessoas não tinham a possibilidade de fazer qualquer movimento lateral, mas estavam literalmente cambaleando em massa”. Os metodistas experimentaram um crescimento exponencial durante os primeiros do século 19, em parte por causa de seus métodos evangelísticos, incluindo os encontros campais e os apelos públicos.
Muitas pessoas consideram Charles Grandison Finney (1792-1875) o “pai do apelo”. Ordenado ministro presbiteriano em 1823, Finney começou a fazer os convites públicos muito tempo depois de os metodistas já terem feito desse método parte regular de seus encontros campais. Finney, entretanto, fez mais que qualquer outro para estabelecer os apelos como uma prática aceitável e popular no evangelismo americano. Ele normalmente chamava os pecadores ansiosos até a frente da congregação para se sentarem no “banco dos ansiosos”. Ali, eles recebiam oração e geralmente ouviam um sermão individual. O apelo também foi uma das famosas “novas medidas” de Finney. Ele estava convencido de que os pastores poderiam produzir avivamento usando os métodos corretos e que, chamar pecadores arrependidos à frente “era necessário para tirar [os pecadores] do meio da massa de ímpios para levá-los a uma renúncia pública de seus caminhos pecaminosos”.
Enquanto muitos abraçaram as “novas medidas” de Finney, outros estavam desconfiados da teologia que sustentava a prática. Finney acreditava que a morte de Cristo tinha tornado a salvação possível para todos. A depravação humana era “uma atitude voluntária da mente”, e não algo que tinha nascido conosco. A conversão, portanto, dependia da vontade humana ser convencida a se arrepender e confiar em Cristo. De acordo com Finney, o apelo era uma ferramenta muito persuasiva para mudar a vontade humana. Ministros calvinistas, como Asahel Nettleton, rejeitaram a confiança que Finney tinha na capacidade humana e sua dependência no sistema de apelo. Eles acreditavam que o ser humano nasceu com uma natureza pecaminosa. Os pecadores eram incapazes de confiar em Cristo até que Deus mudasse seus corações. O historiador Iain Murray aponta que muitos oponentes ao apelo “alegavam que o chamado para uma ‘resposta’ pública confundia um ato externo com uma mudança espiritual interna”. Além disso, diz Murray, o apelo efetivamente “instituiu uma condição de salvação que nunca apontava para Cristo”. Os críticos argumentam que o evangelismo dessa forma resultou em uma falsa segurança, já que uma grande parcela daqueles que iam à frente para “receber a Cristo” logo apostatavam.
A despeito das críticas, o sistema de apelo continua com força. Tornou-se um artefato permanente no evangelismo americano. Só é preciso assistir a alguns poucos minutos de uma cruzada de Billy Graham na televisão para reconhecer que aquilo que um dia foi uma “nova medida” se tornou uma tendência dominante. A voz distinta de Graham chama em alto som: “Suba ali, desça aqui, eu quero que você venha. Se você estiver com parentes e amigos, eles vão esperar por você. Os ônibus vão esperar por você. Cristo percorreu todo o caminho da cruz porque Ele o amava. Certamente você pode dar alguns passos e dar sua vida a Ele”. Enquanto o local deixou de ser a remota Kentucky e se transferiu para os modernos estádios de futebol, e o meio de transporte evoluiu de carroças cobertas para ônibus fretados, o sistema de apelo resistiu. É caracterizado até hoje nas histórias de incontáveis cristãos que contam ter encontrado Cristo quando ficaram em pé, ergueram suas mãos, deram passos até a frente e chegaram ao altar, respondendo ao apelo.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

BATALHA OU BANDALHA ESPIRITUAL?

Como editor de livros cristãos fiquei impressionado ao descobrir em uma pesquisa junto a livrarias evangélicas que um dos três assuntos que mais vendem livros entre a nossa gente é batalha espiritual. Prova de que nós, cristãos, somos absolutamente fascinados por esse assunto. Queremos ver nosso Deus guerreiro arrebentar com o capeta, mandá-lo pro quinto dos infernos a pontapés, sob nossos brados de glória e aleluia. Entendo muito bem do assunto. Fui convertido numa igreja que dava muito valor a isso, onde o diabo era uma figura onipresente nas orações, nos cultos, nas conversas, no dia a dia dos irmãos. Parecia até que ele tinha cadeira cativa na primeira fila. Hoje, tendo lido, vivido e praticado minha fé de forma mais sólida, me atrevo a enxergar aquilo que considero um grande erro no discurso cristão com relação ao Diabo. E é sobre isso que quero conversar com você.
Antes de mais nada, preciso avisar aos adeptos do liberalismo teológico que os respeito mas não concordo com vocês. Acredito sim que Satanás e os demônios são seres pessoais, que atuam sim nas esferas terrena e celestial, militando contra a Igreja de Cristo. Creio em possessão demoníaca e já participei de exorcismos (não televisionados e sem plateia, ressalte-se) em que presenciei situações que ninguém nunca me convencerá terem sido crises de epilepsia. Então sou bem ortodoxo, fundamentalista e bem pouco iluminista quando o assunto é demonologia. Creio que, ao contrário do que defende a Teologia Liberal, Satanás é de fato uma entidade pessoal. Só para você ter uma ideia, há nas escrituras 177 menções ao Diabo em seus vários nomes. Além disso, a Bíblia deixa claro que ele tem intelecto (2 Co 11.3); emoções (Ap 12.17) e também vontade (2 Tm 2.26). Em Mt 25.41 fica claro ainda que ele é moralmente penalizável por seus atos, o que jamais ocorreria se ele fosse apenas uma metáfora ou um símbolo da maldade humana, como advogam alguns. E mais: Satanás é descrito por pronomes pessoais e é fortemente adjetivado no relato bíblico.
Tendo dito isso, vamos ao que interessa: O grande equívoco que nós, cristãos, cometemos, é achar que Deus e o Diabo estão numa batalha espiritual em pé de igualdade. Que a força que Deus tem cá o Diabo tem lá e que as chances de vitória em qualquer batalha espiritual são de 50% a 50%. É essa imagem da queda de braço aí ao lado, onde o Supremo Criador do Universo se vê numa disputa de igual pra igual, em que tudo pode acontecer, em que há isonomia de forças. Nada mais longe da verdade.
DEMÔNIOS APENAS OBEDECEM E IMPLORAM A DEUS
Para começar: Deus é o criador do ser que se tornou Satanás. Ou seja: do mesmo modo que eu e você, como criaturas, dependemos do Senhor para tudo, precisamos de sua autorização para realizar qualquer intento, o líder dos demônios tem de enfrentar a mesma burocracia. Sim, Satanás é obrigado em tudo a dizer a Jeová: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus”. Ele não tem escolha. Pois o Diabo não pode mover uma palha sobre a terra ou nas regiões celestiais sem a autorização expressa de Deus. É como um cachorrinho, esperando que seu dono afrouxe a coleira e ele, assim, consiga avançar contra um dos eleitos do Senhor.
Isso fica claríssimo no livro de Jó. Para tomar qualquer iniciativa Satanás precisa que Deus conceda-lhe o direito. Veja que em Jó 1.12 o Senhor diz a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque nele”. Ele usa o verbo no imperativo, isto é, trata-se de uma ordem, algo que vem de cima para baixo: “não toque”. Em nenhum momento há uma barganha: há uma concessão.
Depois, na tentação de Jesus no deserto, as palavras de Cristo em Mt 4.10a são absolutamente reveladoras: “Jesus lhe disse: Retire-se, Satanás!”. Perceba o que está acontecendo aqui. Jesus de Nazaré, o Deus encarnado, vira-se para aquele que tantos de nós temem e simplesmente dá-lhe uma ordem. Se Satanás vivesse em pé de igualdade na batalha espiritual, se ele lutasse de igual para igual com Deus, no mínimo ele responderia um “qualé, Jesus, vai encarar? Tá se achando, é?”. Mas não. Sabe o que o Diabo faz quando Jesus diz “retire-se”? Vamos para o versículo seguinte: “Então o Diabo o deixou”. Uau. Que moral. Não houve luta, não houve batalha, não houve barulho. Jesus disse e o Diabo simplesmente e subordinadamente obedeceu. Prova de que o nível de autoridade do Mestre é infinitamente, extraordinariamente, magnificamente, inquestionavelmente superior ao do adversário. Que é adversário nosso, não dEle, como já veremos.
Há ainda outra passagem fantástica que revela essa realidade. Marcos 5 nos conta que ao chegar a Gadara Jesus se depara com um endemoninhado. A história se repete. Quando aquela legião de demônios se vê diante do Rei dos Reis o que ela faz? Guerreia? Peleja? Luta? Enfrenta? Encara? Sai gritando “vamos lá, essa é a chance de derrotar Jesus!”. Nada disso. Ouça bem: “E implorava a Jesus, com insistência, que não os mandasse sair daquela região. Uma grande manada de porcos estava pastando numa colina próxima. Os demônios imploraram a Jesus: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles’.” (Mc 5.10-12). O demônios imploraram. Segundo o dicionário, isso significa que eles suplicaram, pediram encarecidamente e humildemente. Isso parece atitude de quem entra numa batalha de igual para igual? E assim é em todas as manifestações demoníacas que a Biblia relata: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ou melhor: quem já é réu de juízo.
SATANÁS NÃO É INIMIGO DE DEUS, MAS DOS HOMENS
Deus é onipotente, isto é, pode tudo. O Diabo é teopotente (com o perdão do neologismo), isto é, só pode o que Deus lhe permite poder. Então, a imagem medieval de Deus guerreando com o Diabo em condições de igualdade é tão esdrúxula como imaginar que um rinoceronte e uma formiga são capazes de competir em igualdade de força, poder e domínio. Apocalipse fala da batalha final de Armagedom. Mas imaginar que essa batalha é como um Fla X Flu, em que tudo pode acontecer, em que há chances de qualquer um ganhar, é uma ideia extremamente infantil. Toda e qualquer luta entre Deus e o Diabo é como um jogo entre a seleção brasileira titular de futebol e o timinho mirim sub-10 do Cáceres Matogrossense (que para quem não sabe é considerado o pior time do Brasil). Chega a ser risível imaginar uma derrota da seleção.
Deus sempre ganha. Sempre. Sempre. Simplesmente porque a grandeza, o poder e a majestade do Ser infinito, eterno, onipotente, inefável, magnífico que é o Senhor do Universo é absolutamente, impensavelmente, descomunalmente superior a toda e qualquer capacidade que esse mísero ser criado, chamado Satanás, possa ter.
Satanás não é inimigo direto de Deus: é uma pedra incômoda no sapato. Uma farpa no dedo. Satanás é sim inimigo dos homens, adversário nosso, pois ele tem a capacidade de nos sugerir que pequemos. Nem nos obrigar ele pode (salvo em caso de possessão). Veja o que ele fez com Adão e Eva: não enfiou o fruto proibido goela abaixo deles, apenas sugeriu, deu ideias. Satanas é um grande sedutor. Nós fazemos e cedemos se quisermos. Repare que o anjo de Apocalipse 22.9 diz a João: “Sou teu conservo”. Analogamente, os anjos caídos estão no mesmo nível hierárquico: co. Ou seja, “correspondente”, “correlato”. Eles estão em pé de igualdade enquanto inimigos dos seres humanos, jamais de Deus. Assim, devemos temer somente e tão somente aquele que pode lançar nossa alma no inferno (Mt 10.28), ou seja: Deus. Acredite: o Diabo não tem nenhuma autoridade para te condenar ao inferno. Isso é entre você e o Todo-Poderoso.
IGREJAS DIABOCÊNTRICAS
Pois bem, uma vez que pomos o Diabo no lugar que lhe é devido, começamos a perceber que ele vem sendo tratado pela Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo de maneira completamente equivocada: com honras e glórias.
“Ahn? Como assim, Zágari, tá maluco?”
Não mesmo. Repare que temos dado tanto destaque ao Diabo em nossas vidas que muitas vezes falamos mais dele do que de Deus em nossas orações e em nossos cultos. É um tal de repreender pra cá, expulsar pra lá, manietar, acorrentar, aprisionar… passamos tanto tempo usando os minutos que deveríamos estar dedicando ao Criador dos Céus e da Terra mencionando o Diabo que acabamos tornando nossos momentos na igreja diabocêntricos. E você consegue perceber o que há de mais grave nisso? Repare que quando pegamos o espaço que deveria ser totalmente devotado a Deus (como nossos cultos, nossos devocionais, nossas orações etc) e o usamos para dar espaço ao Diabo estamos fazendo exatamente o que ele queria e que resultou em sua queda: o pomos no lugar de Deus. Ou seja: quando fazemos de Satanás o centro de nossas atenções ele exulta, pois é exatamente o que queria desde o início: usurpar o lugar do Senhor. Nem que seja nas nossas atenções e em nossos pensamentos.
Cultos são momentos que, como diz o nome, servem para cultuar a Deus. Orações servem para relacionarmo-nos com Deus. Se O removemos desses momentos e pomos o Diabo no Seu lugar, pronto: sem percebermos entronizamos Satanás em nossas atividades, deixando o Senhor em segundo plano. Ah, e isso é tudo o que Maligno sempre quis! Veja: “Você, que dizia no seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo’.” (Is 14.13,14).
As nossas orações, então, em vez de representarem momentos de íntimo contato com o Abba, de aproximação com o nosso amado, com aquele que é maravilhoso, em vez de serem oportunidades de nos derramarmos ao Pai nosso que está no Céu, cujo nome é santificado e cujo Reino esperamos ansiosamente… vira um bate-boca com o Diabo e com os demônios. Que desperdício! E isso porque temos a ilusão de que temos de ficar guerreando eternamente contra esse ser que é tão inferior ao nosso amigo Jesus Cristo. Quando na verdade onde a luz brilha as trevas se dissipam.
BATALHA ESPIRITUAL SE GANHA ACENDENDO A LUZ
Quer fazer batalha espiritual? Acenda a luz de Cristo na tua existência. Traga Jesus para o centro de tudo. E ali ele iluminará todos os cantos de sua vida, eliminando todo e qualquer vestígio de trevas. Pronto, a batalha estará vencida. Simples assim. Sem mágicas, sem estratégias, sem abracadabra. Ponha Jesus no centro da tua vida e Ele iluminará teu corpo, alma e espírito. E, com isso, não sobrará espaço absolutamente nenhum para o Diabo agir.
Fico impressionado com grupos que criam “ministérios” onde ensinam sobre mapeamento espiritual, estratégias de guerra e um monte de outras coisas ligadas ao Diabo. Eu mesmo na minha infância de fé participei de alguns, fui a cursos e seminários. Passamos manhãs inteiras discutindo e aprendendo sobre demônios, principados, hierarquias e tantas outras invenções humanas que a Bíblia ignora totalmente. Joguei no lixo manhãs inteiras glorificando o Diabo, tornando-o o centro das atenções, quando poderia estar me devotando ao Cristo que veio à terra para desfazer as obras do maligno (1 Jo 3.8) e que o venceu na Cruz. Aprendi tantas coisas inúteis nesses seminários de batalha espiritual que uma simples leitura bíblica me teria ensinado com muito mais clareza lições infinitamente mais preciosas e eficazes.
Quer saber qual é a forma bíblica de Jesus de lidar com Satanás e os demônios? Pois bem, repare antes de qualquer coisa que é a forma como  alguém muito superior trataria alguém infinitamente inferior. Como um leão trataria um rato. Mateus 8.16 diz a respeito de Jesus: “Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra”. Repare, uma única palavra!
Jesus não se rebaixava a ficar conversando com demônios. Com uma única palavra os mandava embora. E isso era corriqueiro. Em Marcos 1, Jesus está numa sinagoga quando “justo naquele momento, na sinagoga, um homem possesso de um espírito imundo gritou: O que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus”. Repare que o demônio que possuia aquele homem puxou o maior papo com Jesus. Mas sabe o que o Mestre fez? Não deu a menor trela. Tudo o que ele falou, segundo o versiculo 25, foi: “Cale-se e saia dele!”. Que coisa extraordinária! Repare bem: Jesus não permitiu que o demônio abrisse a boca! Mandou-o se calar. E sair. Só. Sem conversa, sem dar importância nem oportunidade de ele falar ou mesmo “ensinar” doutrinas de demônios. O resultado? O texto diz: “O espírito imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele gritando”. “Cale-se e saia dele”…e ele saiu. Uau.
Esse deve ser o nosso procedimento: cala e sai. Só. E sempre. Luz acesa, trevas dissipadas.
É como se Jesus quisesse dizer: “Tá, já tirei o cabelo da sopa, vamos nos banquetear agora?”. Mas tem gente que prefere ficar aos berros: “Tem um cabelo na minha sopa! Tem um cabelo na minha sopa! Tem um cabelo na minha sopa!”. E assim perde o principal. Que é Deus. A Cruz. A vida eterna. A Igreja. A comunhão dos santos. O amor.
VALORIZAR O DIABO EM NOSSAS CELEBRAÇÕES É DESTRONAR DEUS
A Bíblia é sobre Cristo. O Evangelho é sobre Cristo. Nossa vida cristã é sobre Cristo. Batalha espiritual é um assunto secundário. Se houver demônios os expulsamos e acabou. Se você reparar que está gastando muito do seu tempo lendo sobre eles, falando sobre eles e se preocupando com as sujeiras ligadas a eles é sinal que suas prioridades na vida de fé precisam ser reavaliadas. Cristianismo é sobre viver com Cristo e amar o próximo e não sobre ficar gastando horas e horas com demônios.
Deus não está no mesmo nível que o Diabo. Deus está no apartamento de cobertura e o Diabo, no capacho que dá entrada ao saguão do primeiro piso – pela porta dos fundos  Temos que tirar da cabeça essa ideia infantil de que eles estão no mesmo nível. Deus é criador. O  Diabo é criatura. Deus pode tudo. O Diabo só pode o que lhe é permitido. Deus manda. O Diabo obedece. Deus é vitorioso. O Diabo já perdeu. Deus viverá a eternidade em seu Reino de glória, honra e majestade. O Diabo viverá a eternidade na morte eterna do lago de fogo e enxofre. Deus ama seus filhos. O Diabo perdeu o amor de Deus. Deus merece toda a nossa atenção. O Diabo não merece nem mesmo um post num blog desconhecido como o meu. Logo, como já gastei tempo demais escrevendo sobre essa criatura incômoda que conseguiu fazer com que eu usasse um post do meu blog pra falar dele, nada melhor do que encerrar um artigo sobre o Diabo falando sobre Aquele que de fato merece que falemos dEle: Glória a Deus nas maiores alturas! Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir. (Lc 2.14a; Mt 21.9; Is 6.3; Ap 4.8)
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

sábado, 2 de julho de 2011

Testemunho curioso: Pastor ora em local errado e loja é abençoada e prospera

Testemunho curioso: Pastor ora em local errado e loja é abençoada e prospera
Uma cena diferente pegou de surpresa alguns funcionários de uma loja de produtos de segurança. Chegando para mais um dia de trabalho eles encontraram a frente da loja coberta com um óleo estranho. Pensando que seria uma macumba ou feitiçaria contra a empresa, o dono foi conferir as câmeras de segurança e descobriu que na verdade eles receberam a presença de um pastor evangélico.
A cena curiosa aconteceu em Divinópolis, Minas Gerais. O Pastor foi orar pela loja de uma cabelereira e acabou errando o endereço, abençoando e ungindo o local errado. O mais curioso é que, apesar de não ser o local certo, o dono da loja conta que após a oração seus lucros subiram e o telefone não parou mais de tocar com clientes pedindo novos serviços: “Se benzeu para o bem eu agradeço, se benzeu para o mal saiu pela culatra porque melhorou bastante”, afirma o sorridente empresário.
A cabelereira ainda espera a visita do Pastor para também prosperar em seus negócios.

Evangélicos vão a Marcha para Jesus protestar contra evento e acabam agredidos e roubados

Na última quinta-feira (23/06/2011) aconteceu em São Paulo a 19° Marcha pra Jesus, com a presença de grandes artistas e líderes renomados do meio gospel.
Um grupo de oito pessoas liderado pelo teólogo e pastor da Igreja Quadrangular Paulo Siqueira realizou mais um de seus manifestos defendendo um “Cristianismo puro e simples”, que segundo eles tem como intuito “lutar por um evangelho prático e cessar com as teorias e fórmulas cristãs”, a atividade começou em 2009. Paulo Siqueira afirmou em entrevista que muitos dos seguranças que os atacaram disseram ser pastores da igreja Renascer, líder da organização do evento: “fomos subitamente agredidos por cerca de cinco homens, seguranças da Igreja Renascer, que a socos e pontapés, enforcamento, retiraram nossas faixas, e de forma súbita, se lançaram em meio à multidão”. Vera, esposa do pastor, também foi agredida em meio ao público enquanto protestava frente ao palco principal.
Segundo explica Vera Siqueira, o grupo levou cinco faixas usadas em manifestos anteriores e uma feita especificamente para a Marcha pra Jesus deste ano. “Eu segurava uma faixa ainda enrolada, quando a agarraram e a arrancaram dos meus braços, chegando a me machucar. Era um homem forte, um segurança do evento, que saiu no meio da multidão. Comecei a gritar ‘fui roubada’, sob o olhar assustado dos fiéis que presenciavam a cena. Outros seguranças se aproximaram e tentaram levar outra faixa, essa já aberta, e eu e os meninos ‘grudamos’ na faixa, enquanto gritava ‘socorro’ repetidas vezes, na ânsia de chamar a atenção de todos e não sermos agredidos. Deu certo, havia uma base policial próxima e os policiais foram ao nosso socorro” relata ela que acredita que a ação foi premeditada pela organização do evento.
Duas das faixas foram apreendidas pelos policiais que estavam de prontidão no evento, que levou o grupo de camburão até a delegacia para que fossem prestados esclarecimentos, no entanto, não foi possível registrar B.O. (boletim de ocorrência) pois lhes foi requisitado o nome dos agressores. Após explicarem o ocorrido à delegada foram orientados pela mesma ao procedimento de como entrar com um processo referente a agressão. O grupo resolveu que voltaria no dia 27 de Junho com fotos do rosto dos “seguranças” tiradas por um dos integrantes do grupo para identificação com o auxílio policial.
Em resposta, a Igreja Renascer em Cristo afirmou por meio de nota oficial que: “A Marcha é uma manifestação pacífica e a Igreja Renascer não estimula e nem apoia nenhum tipo de violência. Não tivemos informação de um incidente deste tipo e as pessoas que trabalharam no evento não tiveram esta orientação. Vale lembrar que a polícia também não registrou nenhuma ocorrência como esta”, disse a um site ligado a denominação.

Mais protestos

No sábado (25/06/2011) o grupo realizou a Anti-Marcha, onde os manifestantes doaram sangue no Hospital das Clínicas, para segundo eles “fazer assim algo de prático ao próximo”. Compareceram os blogueiros Paulo Siqueira do As pedras clamam, Vera do Uma estrangeira no mundo, Alex do Desejando Deus, Júlio O Proponente e outros manifestantes, além de fiéis da Igreja Cristã Zion.
Segundo o grupo o movimento está em expansão pelo país e pretendem em breve criar camisetas, faixas e adesivos de carro. A próxima meta será começar a visitar templos da Igreja Renascer em Cristo durante cultos.

Fotos dos protestos

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cristão, dono de lojas de brinquedos se nega a vender produtos de Harry Potter


Gary Grant é cristão e dono de uma grande rede de lojas de brinquedos no Reino Unido. Sua loja tem chamado atenção da mídia local porque ele se nega a vender produtos do bruxo Harry Potter.
Apesar da reclamação de seus clientes, Grant disse que nunca vendeu, nem venderá qualquer produto dos filmes em seus estabelecimentos e que não se tornará responsável por “atrair crianças ao ocultismo”.
Ao jornal Daily Mail a cliente Jennifer Gledhill declarou que não gostou da posição da empresa quando chegou à loja com seu filho de oito anos e ficou sabendo que eles não vendiam o Lego do bruxo.
“Pedi ajuda ao gerente para encontrar o Lego do Harry Potter e ele disse: ‘Somos uma loja cristã e não queremos ensinar esse mal para as crianças’. Me senti insultada, como se eu estivesse querendo ensinar maldades ao meu filho.”
Grant se defende dizendo que não quer “empurrar” seus valores cristãos para seus clientes, mas não abrirá mão deles para satisfazê-los.
Além dos produtos do bruxo mais famoso do mundo o dono da Entertainer também não vende produtos do Trolls (personagens com poderes místicos e mágicos) e nem produtos de Halloween.
Fonte: Gospel Prime

Ricardo Gondim: Pastor, Pregador, Pensador, ou Herege?


Ricardo Gondim, depois de ser convidado para parar de escrever na revista Ultimato por defender a união civil homossexual, entre outras posições, escreveu uma intenção de explicar que não é um herege, ou apóstata, em seu blog.
“Faltam-me argumentos. Como explicar que não perdi a fé, que não apostatei, que não estou na ladeira do inferno e que não sou um Belzebu?” escreveu o pastor da Igreja Betesda de São Paulo.
“Tornei-me alvo de todos os crivos. Depois de devidamente rotulado, sinto-me dissecado, espiritual, moral e psicanaliticamente.”
Isso ocorreu depois que Gondim deu uma entrevista à Carta Capital em que abertamente declarou ser favorável à união civil homossexual, entre outras coisas.
O reverendo Elben Lenz Cesar, um dos responsáveis pela Revista Ultimato disse a ele não se sentir confortável com sua posição e acrescentou que também discordava com a posição de Gondim de que “Deus não está no controle,” questionando se Deus haveria de permitir os desastres como por exemplo, o terremoto e tsunami do Japão se ele estivesse realmente no controle.
“Amor e controle, se contradizem.”
Gondim confessou que não consegue se encaixar na “doutrina da providência” do calvinismo, citando outras tragédias também como a do Realegngo, Ruanda e Auschwitz.
Apesar de achar que ele deve explicações, Gondim afirmou não voltar atrás em suas posições: “permanecerei altivo em minhas colocações.” Mas antes ele acha que deve dar satisfações à sua própria consciência. “Devo trancar a porta do banheiro e, sozinho, olhar o que me espreita de dentro do espelho, e perguntar: ‘Aonde você quer chegar, cara?’”
O pastor Eros Pasquini, pastor da Igreja Batista Bereiana, em uma carta aberta sobre algumas de suas posições de Ricardo Gondim com relação ao controle de Deus, sugeriu muitas passagens da Bíblia que tratam da onipotência, e soberania de Deus que Gondim deveria ler. E parando-se para defender a doutrina diante das posições controversas de Gondim, ele urgiu aos Cristãos a não se calarem frente ao surgimento do que ele chama de neo-ortodoxia.
Ricardo alegou que não levanta a bandeira homossexual. “Ela não é minha, eu não sou homossexual.”Mas que ele defende os direitos das pessoas, sejam elas ateus, religiosos, ciganos ou deficientes. E acredita que faz isso porque “Jesus, o meu Senhor e salvador, o faria.”
O que outros Cristãos pensam disso? Muitos, os que se chamam “gondinianos” falam que ele é o “herege que a Igreja precisa,” justificando que ele é mais que um pregador, “ele é um pensador.”
“A Igreja precisa de homens como Ricardo Gondim, que não tem medo de dar a cara a tapa, que pregam uma verdade doída, mas real,” escreveu o autor do Blog Papo de Teólogo.
No mesmo blog outros comentaram que ele vai esvaziar a sua Igreja se continuar com essas posições.
“Se ele continuar com estas declarações a sua Igreja vai esvaziar,” disse Carlos Alberto em seu comentário.
Por último, Ricardo Gondim escreveu, um “hábil escritor” sugeriu que ele está em crise de fé. “Eu sei que ele confunde fé com a aceitação da doutrina calvinista,” respondeu ele.
O teólogo termina seus pensamentos afirmando que não voltar atrás em suas posições. “Deixo claro: não retrocederei, mesmo xingado. Não há como voltar; puxei um novelo de significados e sentidos e estou fascinado com os fios. Cada nova descoberta me leva para mais perto de mim, do meu próximo e de Deus. Agora vou até o fim.”
Fonte: The Christian Post

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Lista dos “10 inimigos públicos dos gays” conta com Silas Malafaia, Magno Malta e Júlio Severo

Por essas e outras manifestações públicas contrarias a união entre pessoas do mesmo sexo e também contrários aos exageros do Projeto de Lei 122/2006 os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano aparecem na lista dos  “10 inimigos públicos dos gays no Brasil” publicada pela Revista Lado A.
A lista é elaborada por 10 militantes gays que indicam, por ordem de importância, as 10 pessoas que mais se destacaram na mídia por contrariar projetos que beneficiem a comunidade gay . Além dos dois pastores outros evangélicos aparecem na lista como o Senador Magno Malta, o deputado federal Eduardo Cunha, vereador Carlos Apolinário, deputado estadual Édino Fonseca e o blogueiro Júlio Severo.
Confira  a lista de inimigos da Revista Lado A:
1 – Deputado Jair Bolsonaro
2 – Pastor Silas Malafaia
3 – Jonathan Laudo Rodrigues
4 – Ministro Nelson Jobim
5 – Senador Magno Malta
6 – Deputado Federal Eduardo Cunha
7 – Vereador Carlos Apolinário
8 – Governador Beto Richa
9 – Deputado Edino Fonseca
10 – Blogueiro Júlio Severo

Pastor Silas Malafaia ataca Ana Paula Valadão, Aline Barros, André Valadão e Fernanda Brum após Brasil reconhecer união gay

Após maioria dos ministros do STF aprovarem o reconhecimento da união homoafetiva, o Pastor Silas Malafaia iniciou um forte ataque a vários famosos cantores gospel famosos. O Pastor criticou os também pastores André Valadão, Aline Barros e Fernanda Brum por não republicarem em seus perfís no Twitter suas campanha contra o julgamento do STF.
Silas Malafaia iniciou uma campanha esta semana para que fiéis enviassem emails Aos Ministros do STF afim de que eles não julgassem procedente as ações que visavam dar direitos civis e reconhecimento a união gay como entidade familiar. Nesta quarta última, 4 de maio, o Pastor pediu por intermédio de seu Twitter que os cantores republicassem suas mensagens para seus seguidores na rede social. Até o fechamento desta matéria Ana Paula Valadão possuia 180 mil seguidores, André Valadão 207 mil, Fernanda Brum 150 mil e Aline Barros 247 mil.
Como nenhum dos cantores respondeu a mensagem pública, o Pastor Silas iniciou um ataque com fortes críticas aos famosos após os ministros votarem a favor da união gay: “Obrigado pela omissão de vocês em não [dar] RT (ato republicar uma mensagem, na linguagem do Twitter) para conclamar o povo de Deus a pressionar os ministros do STF num assunto tão fundamental que favorece os homossexuais. Se Twitter é para mostrar fotos e agenda é melhor acabar porque não presta pra nada”, enviou para todos os cantores, e completou: “Vamos usar o Twitter para algo proveitoso no Reino de Deus, e não para futilidades”.
O debate se tornou mais acalarado quando a Pastora Ana Paula Valadão respondeu a crítica, sem citar nomes, afirmando que devemos buscar é conseguir almas para Deus, porque “se as pessoas temerem a Deus não abortarão seus bebês, ainda que haja uma lei a favor do aborto”, disse em relação a legalização da união civil. Confira o relato completo:
“Tive a tristeza de ler alguns twitts que citam meu nome com acusações e julgamentos. É verdade, cada um dará contas de si mesmo a Deus, e de cada palavra que proferimos. Lamento por algumas partes do Corpo de Cristo que se acham no direito de acusar outros por não agirem como eles sentem que Deus os chamou para agir. Eu só posso dizer o q eu sinto q Deus quer que eu diga.
Avivamento, a volta de uma pessoa ou de uma nação para Deus e Seus princípios, a meu ver não é algo que aconteça de cima para baixo. Podem haver leis proibindo isso ou aquilo e as pessoas continuarem na prática de pecado. Creio que o avivamento vem de baixo para cima e a mudança ou estabelecimento de leis segundo os padrões de Deus serão consequência do que se passa numa sociedade em avivamento, que quer Deus mais do que querer mudança ou impedimento de legislação. De cima para baixo.
Clamo por mudança do coração das gentes, da nação, de baixo para cima. Por exemplo: se as pessoas temerem a Deus não abortarão seus bebês, ainda que haja uma lei a favor do aborto. Oro pelo o avivamento espiritual no Brasil. Se isso resultar em leis segundo Deus, amém. Se não, tudo bem, porque pessoas temerão Deus de qualquer maneira.”
Protamente o Pastor Silas Malafaia respondeu com novas críticas: “Quando é para defender seu nome, responde rapidamente. Quando é para defender o Reino de Deus, diz que está viajando” e completou “Tem gente que perde a oportunidade de ficar calada. Mais povo de Deus tem de aprender que tem horas para orar e horas para
agir”. Apesar da Pastora não querer falar mais sobre o assunto, o líder da Igreja Vitória em Cristo continuou criticando a opinião da pastora: “Gostaria de argumentar que o avivamento só existe com atitudes do povo d Deus (…) Avivamento não eh uma acao sobrenatural de Deus independente da nossa acao (…) O povo de Deus não pode se omitir e deixar para Deus aquilo q eh da nossa competencia”, disse o televangelista em algumas mensagens.
O Pastor encerrou afirmando que irá “continuar amando a irmã Ana Paula Valadão. Sei que ela é serva de Deus. Mas sei que ela está terrivelmente equivocada nos seus conceitos” e completou: “Ana Paula Valadão, amigo é aquele que diz a verdade.”
Até o fechamento desta matéria os Pastores André Valadão, Fernanda Brum e Alina Barros não se manifestaram.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Polêmico Pastor Ricardo Gondim afirma ser a favor da união civil gay: “Nem todas as relações homossexuais são promíscuas”

‘Deus nos livre de um Brasil evangélico?’ Quem afirma é um pastor, o cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu crescimento estão as raízes da própria decadência.
Os evangélicos, diz Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os direitos homossexuais.
Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”, diz na entrevista a seguir.
Carta Capital: Os evangélicos tiveram papel importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais influenciável pelo discurso desse movimento?
RG: Sim, mesmo porque, é notório o crescimento no número de evangélicos. Mas é importante fazer uma ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos de dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos do perfil religioso típico do brasileiro.
CC: Como o senhor define esse perfil?
RG: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.
O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?
Porque esse projeto impõe não só a espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente da República. Isso fica muito claro no projeto da igreja Universal. O objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, pode facilitara expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam os meios.
O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?
O movimento brasileiro é filho direto do fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american way of life de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das principais. As lideranças daqui Ieem basicamente os autores norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial, o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência prestadora de serviços religiosos. de cura, libertação, prosperidade financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos, a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é de que Deus abre portas de emprego para os fiéis.
Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?
O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.
Uma igreja que, para se sustentar, precisa de campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.
Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?
Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os sentidos, ao Tea Party, à guerra.
O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?
Sou a favor. O Brasil é um  país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.
O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?
Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere, controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval, mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível a existência  de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é bom e onipotente, e coisas ruins acontecem., então há aluo errado com esse pressuposto. Minha  resposta é que Deus não está no controle. A favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse, porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos, lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso, que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora da vida.
Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.
Não necessariamente. Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.
Fonte: Carta Capital